O livro A Tenda Vermelha, escrito por Anita Diamant, traz a fortaleza e a fragilidade das mulheres imersas numa cultura que favorece a negociação de suas vidas. Diante do olhar penetrante que apresenta a narrativa, vamos redescobrindo o cotidiano de personagens bíblicas, sentindo seus anseios, suas alegrias, o gosto das lágrimas e do pão, a dor e o amor que brota de cada relação. Ao mesmo tempo nos entregamos ao desenrolar da história contada por Dinah, filha de Lia e Jacó.
Este livro nos traz diversas provocações e nos coloca diante de um mundo que parece distante, mas que levanta questões não resolvidas até hoje, principalmente em determinadas culturas.
Para mim, foi impactante acompanhar a saga das mulheres menos favorecidas, escravizadas em uma vida pouco ou nada instigante, nada feliz, nada, sempre um nada. Era assim que se viam e eram vistas, como um nada, um mero objeto nada digno de respeito.
Também percebe-se a aspereza, o peso do trabalho, a relação com a natureza e com os animais. O tipo de interação entre os homens também vem à tona revela a intensa “marcação de território”.
Relevantes passagens da trama trazem aquilo que não é implícito nos sentimentos das personagens, configurando detalhes que nos fazem mergulhar cada vez mais na leitura, na descrição e narrativa da história de um núcleo familiar. Sofri e celebrei com Dinah a sua metamorfose. São as descobertas, os medos, curiosidades e lembranças dessa menina e mulher que constroem o cenário, as cenas, cada por do sol e cada refeição. O diferente se dilui quando nos deparamos com específicas sintonias que dizem respeitos às mulheres.
Aqui, na narrativa de A Tenda Vermelha, confrontamos antigos valores, nos assustamos e nos deliciamos.
A trajetória de Dinah é sugerida apenas no livro de Gênese, e cada vez mais fica claro a necessidade de um estudo mais aprofundado sobre as mulheres presentes na bíblia. Histórias que ficam à sombra, escondidas. Não é de se admirar que quando alguma narrativa vem à tona, venha com tanta força, como as mais conhecidas descrições de Maria Madalena, Maria de Nazaré, Haab, dentre outras.
Por fim, fica entendida a castração dos sentimentos. Não que estes deixem de existir, mas são enterrados junto com perspectivas, sonhos e alma. Fica clara a força da cortesia, do amor, da entrega e da confiança. Coloca-se à prova toda dor, a submissão, a rivalidade, a compaixão e as próprias crenças.
Não deixem de ler essa obra!
Sobre a autora do livro:
“Nascida em Nova Iorque, Anita Diamant é uma premiada jornalista e autora de cinco livros sobre a vida judaica contemporânea. Durante mais de 20 anos, como jornalista freelancer, escreveu artigos para diversos jornais e revistas. A Tenda Vermelha é sua primeira obra de ficção”. (www.esextante.com.br)